Ainda sobre BH: com primeiros e segundos, entre parentêses, travessões e afins.

A minha primeira memória de Belo Horizonte: o cheiro de café torrado ao passar pela rua Jacuí, no bairro Renascença. A segunda, o tradicional passeio pelo Parque Municipal aos domingos (E a pirraça insistente para andar de barco – Eu quero! – mesmo assim não deu. E daí a primeira lição de vida: nem tudo pode se ter pelo grito). O que me admirava no centro da capital era o símbolo do BEMGE- o banco estatal que foi privatizado e não existe mais. Estava lá, estampado em um prédio de tantos andares. Vontade profissional primeira: ser motorista do transporte público, daqueles ônibus que atendiam os bairros (Eram máquinas fantásticas, com uma comunicação visual hipnotizante. Barulhentos, azuis ou vermelhos e com o jornalzinho pedindo gentileza urbana).

Bondosa.
Bondosa.

Não fui da época dos burburinhos políticos no Café Nice… Mas honrei as tradições belo-horizontinas: o Maletta foi ponto de encontro e divisor entre a adolescência e a vida adulta. Me perdi na primeira vez que saí sozinho, em um sábado, em direção ao bairro de Lourdes (para um aniversário). Liguei desesperado, de um tijolão 5120 da Telemig Celular, para me orientar (A cidade parecia estranha quando anoitecia). Nunca foi, coisa de primeira impressão – das ruas e avenidas tão largas e sua gente em passos rápidos para chegar em casa: ensinam que não se pode ter medo do cotidiano e da mudança. Não cresci na Serra, na Gameleira, em Venda Nova, em Santa Tereza, no Mangabeiras, no Caiçara ou no Barreiro. Mas vivi bons momentos em bairros que não deixam de ser tradicionais  e são tão familiares para mim (Ipiranga, Planalto, Tupi, Mirante do Tupi, Pampulha, União, Cidade Nova, Nova Floresta, Sagrada Família e outros tantos no eixo norte-nordeste). O primeiro emprego, na Universidade Católica… Eu sempre gostei da arquitetura do campus no bairro Coração Eucarístico. Me fazia sentir que estava em Ouro Preto. Não sei o motivo. (Aliás, tem muita sola do meu sapato pelo Coreu e pelo São Gabriel por causa dessas andanças que a gente empreende para conquistar os sonhos).

Sempre gostei dessa possibilidade da Serra do Curral abraçar 2 milhões de habitantes de uma vez só – sem distinção de nada, de graça, confortante. Acho um tanto surpreendente nossas construções, principalmente as praças. Estamos imersos em um mar de montanhas, que parecem não ter fim quando observadas do alto (E eu tive o gostinho de sobrevoar a cidade quase todos os dias por um tempo – mesmo que para reportar o caos). Minhas paixões maiores: o sotaque belohorizontês, bom de se ouvir; as histórias que aqui residem, verdadeiro patrimônio da humanidade.

Com primeiros e segundos, entre parênteses, travessões e afins.

[De Fernando Brant e Milton Nascimento: “A pulsação do mundo é o coração da gente”.]

Laterais.
Laterais.

Deixe um comentário