Roda, roda, roda o tempo. O instante. E o tempo, passa. Passa os anos, os amigos e os planos. Um passo apertado; e o tempo passa, a vida passa e eu passo.
Mês: maio 2012
Do tempo e ternura
((O texto abaixo é de minha amiga, Liliene Dante, jornalista e itabirana. Feito com muita ternura, em uma noite de quinta-feira, depois de um pedido meu. Ela se sentou ao meu lado, com suas meias coloridas e blusa de frio azul. Pensamento assertivo. Rapidez ao digitar. Disse que era pra eu corrigir algum erro de ortografia. Eu prefiro não!))
Passagens. Passado. Presente. O que vem.
Talvez sejam “todos” circunstanciais. Feito eu e minha própria relação com o tempo. (Não de desejos e sonhos. Um eu de mudanças… Como borboletas azuis. Embora, acredito eu, borboletas azuis não saíram do casulo. Nasceram prontas. Azuis. Melhor dizer, então, mudanças de borboleta).
Vai tempo. Escorre. Engole. Na fluidez de um descaso com si mesmo. Na ausência de “temporalizar-se”. Eis minha inveé ja dele. Essa inveja não reprimida, mas, ao contrário, exposta. Nua e transparente, feito o eu que o tempo cuidou de moldar. Nem fortaleza, nem fraqueza. Apenas é. Assim. Do jeito mais simples de ser. Mais simplista, até.
Do alto vêm pássaros. É o que enxergam. Cá, do meus “entas”, ainda vejo as mesmas, e mágicas, e gigantes, e maravilhosamente perfeitas… borboletas azuis.
Daí, talvez, minha paixão pelas margaridas. As simplórias união de cores que não se chocam. Ouro e limpedez. A perfeição que recebe o divino. (Sobre elas pousam o sublime. Sobre elas o azul é asas e céu).
Enfim: nada a dizer ou escrever. Apenas que o tempo… a temporalidade… as margaridas e borboletas azuis. São presente. Foram. E mesmo que haja um findar. Serão.
Maio de 2012
23 de maio.
– Leite com açúcar queimado. Pode me trazer um pão de sal bem quentinho com manteiga?
Parece pouco: não é. Com a permissão da ciência da esquisitologia, é isso o que quero de presente no meu aniversário. Nada de festas ou roupas desnecessárias. Quero colo de mãe e esquecer por algumas horas as responsabilidades que impulsionam a vida. Fazer 24 anos é estabelecer uma séria e profunda relação com o seu ego. É daí que surgem as forças e a motivação para encontrar as respostas certas lá na frente. Do caderno de cabeceira, eu faço um rascunho do que pretendo ainda realizar nessa idade – lembrete, que vai ser par. Lista modesta, incluindo metas e resultados…
Esta semana conheci o grupo de dança folclórica Kyrey’y, do Paraguai. Eles vieram até Belo Horizonte para uma apresentação no Sesc Palladium, no festival de folclore. O que me chamou a atenção é que eles carregavam algo de muito precioso e que está em falta no meu cotidiano: a serenidade. A menina, antes da dança, deixou o vaso quebrar. A mãe disse que não tinha problema nisso, não era preciso chorar. Acontece… “Vamos seguir em frente?” Me emocionei. Talvez as duas vão demorar para compreender a grandeza daquele gesto. Para quem trabalha com câmeras e usa corretivo na cara, segurar o choro era questão de profissionalismo. As grandes lições estão em cenas como essa. Fui acalmado com um belíssimo show. Depois, tive a honra de ser eternizado pela fotografia ao lado do grupo.
Dia desses, ganhei um desejo de “shallon” sincero de um judeu. Ele confessou, quer paz. Para todos os povos e crenças.
– Encontrar esse denominador comum é urgente. Compartilhar as diferenças é o barato da vida! Você viu só Jerusalém, que depois de tanto tempo foi reunificada? Agora judeus, cristãos e muçulmanos podem visitar novamente seus templos… transitar pela cidade, li-vre-men-te! Isso não é uma maravilha?
As metas para os 23 anos foram cumpridas. Todas ao seu tempo devido, com questionamentos certos (…) e as vezes, errados. A experiência mais marcante? A descoberta dos exemplos de amor ao próximo. Falo de Chico Xavier. Tive a oportunidade e fui visitar a cidade de Uberaba. Conheci lugares por onde esse Chico passou, viveu, compartilhou. O espiritismo é uma lição para nossos gestos ratos. E a esperança de renovação para uma vida melhor.
Não posso me esquecer. Colecionei bons encontros e reencontros. De amigos, de amores. Suporte maior: a família! Um ideal reforçado? A busca pelos sonhos.
Ou é 8 ou 80! Aprendi a importância de fazer as coisas muito bem feitas. E relaxei.
É assim que reitero a compromisso de ser sempre um aprendiz na vida. Da condição de eterno aluno, o conhecimento. E de não abrir mão do que é minha essência. O pão com manteiga chegou. Assim como o leite com açúcar queimado. Agora, só falta o colo de mãe.
Descontinuidade.
A televisão resolveu funcionar em preto e branco: Nada como o charme das fotografias sem cores, que pulsam e revelam vida. As notícias passam a minha frente, em todos os sentidos. De passagem, também estou. Agora, nos melhores anos da minha vida. O ano do gato; que traz sapiência, observação e a necessidade de estar em sintonia com boas energias.
A mulher fala sobre a característica dos geminianos. “São excelentes comunicadores! Eles se dão bem também no comércio ou para vender algo. Jogo de cintura não falta.” Cometo gafe! Esqueço de perguntar quais são os planetas que regem o signo… O que é mapa astral? Ascendentes? Quando estarei pronto para saber tudo isso? Conto experiências, levo aprendizagem.
O tempo chuvoso não tira minha perseverança. No domingo, resolvi passear pela cidade. Fui sozinho, queria colocar em dias as minhas ideias. O parque municipal se revelou bom amigo. Me sento na grama para assistir uma apresentação do Coral Lírico. Tarde agradável, com calça jeans e meu tênis all star.
A menina que aparenta ter 19 anos fala ao celular. Parece ser descendente de índios, pelo cabelo e traços marcantes. Exercito a arte do escutar e descubro que é do interior de Minas e veio para estudar na capital. Resolveu sair mais cedo do cursinho para andar pela cidade. Ela se senta ao meu lado. Inquieta, me pergunta quando começa a apresentação das músicas. Respondo, calmamente, “daqui a 10 minutos”. Ela sorri e diz que não sabe como não veio morar antes em Belo Horizonte. Eu só a observo. Jeito tranquilo, ainda menina. Mas com grande capacidade cognitiva.
Belo Horizonte me guia até às seis da tarde.
Hoje, 24 anos.
Este até parece ser um diário virtual. Pois bem, vou deixar de lado as definições ou afins. É que faltam 12 dias para completar 24 anos. E eu não poderia deixar de escrever algo sobre. Está certo de que não gosto de completar primaveras. Mas me comprometo, a partir de agora, me tornar mais flexível quanto a isso.
Aos 11 anos, fiz um planejamento de vida. Queria encontrar o grande amor da minha vida aos 23, namorar aos 24 e me casar aos 25. Ainda bem que os tempos são outros e as ideias vão amadurecendo e ganham novas formas e prioridades. A alma gêmea não encontrei ainda não. Mas isso já não é mais uma preocupação. A vida segue seu curso natural e, esteja onde ela estiver, estará bem. Temos a eternidade toda para os encontros. Seria eu um pouco apressado demais? Talvez sim. Mas eu não quero me fechar para as possibilidades de amores e causos que podem surgir.
Eu continuo o mesmo de sempre. O menino que ainda idealiza, acredita em seus sonhos. É difícil botar o pé fora de casa quando não tenho motivo para buscá-los. Me considero tímido – demais. O que não me impede de ser um grande admirador de pessoas. Gosto mais de ouvir do que falar. Os amigos estão em primeiro plano. Nada sou sem eles.
Sou movido a pequenos prazeres. Hoje mesmo comprei três canecas para decorar meu quarto. Outro dia, depois que sai do trabalho, passei na pizzaria perto de casa para comprar a esfirra que só eles fazem. Sou de introspecção, de inverno, de hibernar. O meu porte físico é grande e por isso prefiro as coisas pequenas, os detalhes. Sou de pedra, espírita kardecista. Acredito em vida após a morte, em reencarnação, em missão, em dons. Não consigo ter raiva de nada e de ninguém. Não sou juiz. Sou repórter, quase uma filosofia de vida.
23 de maio é o meu dia, data que escolhi para voltar a esse mundo – mais uma vez. Sou geminiano, regido por muitos e muitos planetas que trabalham em boa sintonia com os meus ideais. Eu gosto de viajar, de jogar conversa fora, de passar o domingo fazendo absolutamente nada. Gosto de estudar, sou eterno aprendiz. Uma condição que me agrada – e muito!
Conversa de decisão
– Inspira. Respira. Agora!
As ordens eram para salvar uma vida. Um toque nas mãos e voz serena para acalmar a mulher de 32 anos. Tinha tentado desesperadamente fazer com que ela retomasse o fio da realidade – dura, como pedra. Chorou.
– Olhe esse paredão, firme como você. É a serra do curral, sua essência. Você não pode abandonar a realidade. É seu e apenas o seu momento de aprender. A vida acordada não é uma tentativa de fuga, mas de se encontrar e resolver os seus medos.
Procurou no horizonte algo para se apoiar. Encontrou um pássaro. Livre, leve e sem amarras. Era o exemplo que precisava.
– Você percebe que recomeçar é um dos verbos mais fortes do mundo? Mas tão difícil de colocá-lo em prática no cotidiano.
– Sabe, o que a gente precisa é de uma boa mesa de bar. Temos que rir, jogar conversa fora e aprender com que a gente vai descobrir nesse caminho de colecionar encontros.
– Gostei. Prazer, meu nome é Adélia.
Não tem jeito. O mau humor em maio dura até o dia 23. Fazer aniversário é complexo: Mais um ano de vida e a urgência de realizar todos os sonhos, como o planejado, antes do retorno de saturno, aos 29 anos. O que conforta é que falta um bom tempo para isso. Eu nasci cru, como todos. Em processo de cozimento até hoje. Tempero com serenidade, parcimônia e descontrole na medida certa.
A menina feminina, feminista. Algumas linhas apenas.
O encontro durou pouco – mas o necessário para saber o que deveria encontrar. Dos cabelos loiros e cacheados, a força feminina trabalhada na dose certa. Eu tentava decifrar qual seria o defeito dela. Não em um tom pejorativo; é que só se faz isso quando as identidades se parecem e a recíproca é mútua (abusando do velho e bom clichê). Voz doce, sotaque mineiro. Cabia perfeitamente no que eu espero de uma mulher.
Só que mora no Rio de Janeiro. Não vai dar certo. São 437 km de Belo Horizonte. De espírito livre, ou seja, do mundo, sem correntes ou amarras que a impeçam a ficar presa em algo. Casamento então? Não quer ficar ligada a conceitos antigos. Personalidade marcante, feminista. O meu ego se sentiu amaciado com alguns bons elogios, dela. O meu coração se aqueceu com alguns bons beijos – dela. Meu corpo estremeceu com o abraço; dela. Sempre ela. Se fosse do sul de Minas, arriscaria dizer: é alma gêmea, minha!
Conversa de barca.
Da série, vídeos que guardo para me lembrar quando completar 80 anos de idade. Rio de Janeiro, maio de 2012.
As descobertas de um outro Rio de Janeiro: parte 2
A mulher tem os cabelos encaracolados; de sangue mineiro (…) mas com alma carioca. Blusa discreta, meia preta e sandálias bonitas. Eu só admiro esse conjunto, sem intenção nenhuma. Colírio para os olhos sofridos pela rinite alérgica. Assim a noite é embalada no Rio: cachaça, cerveja e bom papo. “Não se consegue voltar a realidade na segunda-feira”, constatação que ninguém queria pensar. A casa era um sobrado, construído na década de 40. Os atuais donos disseram ter certeza que Prestes, quando esteve em fuga, passou por lá e ficou horas conversando na varanda, de olho nos soldados que o perseguiam.
É mais uma geração que se reúne ali, com a benção de São Jorge, Guerreiro! É assim que a história vai sendo construída e compartilhada. Tem espaço para falar da não-eleição de Sarkozy na França, o problema do bonde no bairro de Santa Tereza e as últimas tendências das ciências sociais. A gente questiona o conceito da sala de aula, das universidades e escolas espalhadas pelo Brasil: a grande maioria é quadrada.
Por onde se anda no Rio, tem uma atração. Seja o povo carioca ou as exposições em museus ou centros culturais. O cardápio é variado; difícil escolher o que fazer. Enquanto se desce as ladeiras da cidade maravilhosa, em direção ao mar, tudo é possível: encontrar uma roda de samba, aquele amigo do seu amigo ou uma apresentação artística. Cidade que poucas vezes é representada assim nos telejornais.
Por falar em roteiro, dessa possibilidade do que fazer, optamos pela visita no Museu de Arte Contemporânea de Niterói, viagem de barca e visita a museus. Mas isso é assunto para outros capítulos.
As descobertas de um outro Rio de Janeiro: parte 1
Mineiro quando vai sair de Belo Horizonte para visitar o Rio de Janeiro chega com duas horas de antecedência no Aeroporto de Confins. Ainda mais com o trânsito pesado na Cristiano Machado e o resto da linha verde, principalmente nos horários de pico. Nossa natureza é de prevenção, não tem como negar e evitar isso. Voo tranquilo, sem atrasos. O pensamento é sobre a filosofia de vida do carioca. É um povo tão distinto em relação aos costumes de quem mora entre as montanhas! Estudo de antropologia revelado. Deles: características expansivas, da prática da arte do encontro, da necessidade de serem ativos e parcipativos.
O destino é o Bairro de Santa Tereza, conhecido pelas tradições históricas e pela efervescência cultural. É para visitar amigo de Manaus, que já morou em Belo Horizonte (…) mas que sempre teve coração carioca. O primeiro desafio é conseguir algum taxista que nos leve até o bairro, que suba a Avenida Cândido Mendes até o fim. “Não vou levar vocês até Santa Tereza. Aquilo lá tem morro demais e pedra demais; estraga o carro! E dúvido que vocês consigam alguém para fazer isso”. O que gosto no Rio é isso: a possibilidade aberta da sinceridade. Porém questiono sobre a copa do mundo, como o taxista não quer levar turista em bairros tão tradicionais? Depois de muita confusão e achar um profissional que ligasse o taxímetro (e não fizesse uma corrida com preço fixo e bastante caro), pagamos 12 reais e chegamos até o sobrado em “Santa Tê”, que foi construído na década de 40, quando Vargas ainda governava o país.
A conversa durou até a madrugada: A lua no céu ainda era nova, mas estava espetacular. Um requinte! Na mesa, caldo de feijão branco com inhame e, de presente, cachaça mineira – trazida por nós, comprada no mercado central. Tinha um quê de aconchego e de espírito jovem: descompromissados e maduros, com aquela vontade toda de viver. Colchões colocados na sala com quadros que remetem a grandes nomes do samba, uma varanda e um filme. Assim se foi mais um dia.
Minhas descobertas espirituais.
Quem disse que seria fácil? Picuinha do jeito que sou, devo ter lutado para fazer algumas adequações no planejamento previsto antes de nascer novamente na terra. Uma mudança nesse caminho, uma característica que devo trabalhar melhor: Meu anjo da guarda, paciência com este que vos fala. Pronto! Acho que estou pronto! E me enganei mais uma vez. A gente nunca está pronto: reitero e reitero.
Os últimos anos renderam algumas descobertas que me foram permitidas. A possibilidade do mundo espiritual, saber que há uma vida além dessa. Quem sou eu? De pedra, terra, sensível e sereno. Em uma dessas projeções astrais, visitei uma cidadezinha onde já estive. Arrisco Europa, mas isso pouco importa. Ruas estreitas, com casas coloniais… Um charme que deixa boquiaberto qualquer urbanista. E o cemitério? Eu estive no lugar onde estão guardados meus restos mortais de outra vida, onde tinha outros hábitos e familiares. A Igreja no alto do morro, no topo da montanha: Não sabia se chorava ou sorria – tudo muito familiar para quem viveu ali por cerca de 70 anos.
Em outro sonho, o senhor de branco me conforta, conta sobre a minha alma gêmea. Descubro que já passei dessa para uma melhor através de uma catástrofe, um acidente de avião. Já fui feirante, cuidando da terra e dos alimentos que abasteciam uma cidade medieval. Eu sou aprendiz a muito tempo. Se essa é a minha última missão, não sei. Sei que a terra é, como dizem os espíritas, um educandário fantástico!
Ultimamente, só penso nas palavras de Emmanuel, o guia espiritual de Chico Xavier: Disciplina, disciplina e disciplina.